No matadouro de Palmeirina, cães e urubus disputam restos de bois

Durante
 a inspeção ao Matadouro Municipal de Palmeirina, a 212 km de Recife, o 
fiscal da Adagro, André Teixeira, confidencia à reportagem do blog Carne
 Saudável: “Está tudo errado”.


E, com tantas irregularidades detectadas, não poderia mesmo ser 
diferente. Uma funcionária da linha de abate admite aos inspetores da 
Agência de Defesa Agropecuária de Pernambuco (Adagro) que os animais são
 abatidos no chão. Há dois corredores que, na teoria, seriam espaços 
separados – um para o abate e outro para separar tripas, couro e partes 
não usadas do animal e ferver vísceras. Na prática, porém, as divisões 
exigidas por regras sanitárias não são respeitadas.Segundo
 o relato da funcionária, os bois mortos vão sendo amontoados no chão, à
 medida que entram, para que sejam retalhados e eviscerados. No entanto,
 quando há acúmulo de bois no pequeno espaço do matadouro, o boi 
atordoado é arrastado, no chão, para uma antessala ao lado, dando lugar 
ao trabalho dos funcionários. Depois, quando se faz espaço, o boi é 
levado de volta ao corredor de produção do Matadouro.
Em
 Palmeirna, como nos outros matadouros visitados em Pernambuco, a 
marreta para atordoar e matar os bois estava exposta. Na foto, podemos 
ver uma grade usada para apoiar a cabeça do animal para que seja 
finalizado o abate a marretadas e facilitar o retalho, sempre no chão. 
No final da linha de produção, é possível ver duas varas longas usadas 
para o transporte da carcaça até o veículo que transportará a carne – 
outra irregularidade.

Nos
 fundos do prédio, onde estão os currais, mais problemas. Uma cabeça de 
boi, sobra de abate, jogada no mato, próxima à cerca, era devorada por 
cães. Urubus sobrevoavam o local. “Este lugar não deveria estar 
funcionando faz tempo”, diz o fiscal da Adagro.
Já em Brejão, a 30 km de Palmeirina, os problemas de outros 
matadouros se repetem. O espaço é pequeno para conter todas as 
divisórias necessárias para o abate bovino (corte, evisceração, 
triparia, couro, descarte do conteúdo de estômago e intestinos, e ferver
 as vísceras). Devido à ausência de trilhos suspensos e pelas marcas de 
marretadas no chão, o abate, muito provavelmente, também é feito no 
chão. Nos fundos do estabelecimento, é possível ver um dos grandes 
problemas do abatedouro: o sangue escorrendo direto para a mata, sem 
qualquer tipo de cuidado sanitário, poluindo o meio-ambiente.
O blog Carne Saudável acompanhou a operação de inspeção de dois dias 
da Adagro pelas cidades de Terezinha, Bom Conselho, Palmerina e Brejão, 
no interior de Pernambuco. A blitz faz parte da Operação Carne de 
Primeira, iniciada pelo Ministério Público (MP) estadual no ano passado.
 Os laudos dos técnicos servirão de base para as atitudes que MP tomará 
em relação aos matadouros. Devido aos descalabros encontrados nos quatro
 estabelecimentos administrados pelas respectivas prefeituras, a Adagro 
deve recomendar a interdição de todos.
Os fiscais admitem que não há um só matadouro no estado de Pernambuco
 totalmente de acordo com as exigências sanitárias do Ministério da 
Agricultura. Em situações não tão absurdas, existe a possibilidade de 
acordos, como Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), mas esse não foi o
 caso dos estabelecimentos observados nessa blitz de dois dias.
O Programa Carne de Primeira ainda tem um longo caminho ela frente. 
Enquanto isso, cães e urubus disputando restos deixados pelo descaso das
 administrações locais serão cenas comuns no interior de Pernambuco. “É 
complicado. As pessoas colocam uma parede e um teto e dizem que é 
matadouro”, desabafa um dos fiscais da Adagro.
Fonte : http://carnesaudavel.blog.br/?p=932